Resumo - Saberes docentes e formação profissional - Tardif, M.

Maurice Tardif  - é um professor pesquisador canadense, da Universidade de Laval, Quebec, e da Universidade de Montreal onde dirige o mais importante centro de pesquisa canadense sobre profissão docente. É formado e sociologia e filosofia.

Suas pesquisas são voltadas para evolução e a situação da profissão docente, além da formação de professores e os conhecimentos de base da docência. Para o autor, a docência é uma profissão de interações humanas. 


O saber dos professores está relacionado com a pessoa, e sua identidade, com a sua experiência de vida, com a sua história profissional, com sua relação com alunos e com os demais atores escolares.

O autor aponta diversos argumentos de como esse saber articula-se com o social e individual e cria dois conceitos fundamentais:

A saber o mentalismo que consiste em reduzir o saber a processos mentais, cujo suporte é a atividade cognitiva do indivíduo. É uma forma de subjetivismo que coloca o saber apenas em atividades mentais. Desde a queda do behaviorismo, para o autor, essa é a forma que impera dentre os modelos educacionais. Suas variantes são: o construtivismo, o sócio-construtivismo radical, a teoria do processamento da informação etc.

A saber o sociologismo que tende a eliminar a contribuição dos atores envolvidos na construção concreta do saber, tratando-os como uma produção social em si mesmo e por si mesmo. O filósofo e sociólogo afirma que, levado ao extremo, o sociologismo transforma os atores sociais em bonecos de ventríloquo. Pouco importa o que os professores saibam dizer em relação ao seu trabalho, pois as luzes do conhecimento estão nas pesquisas em Ciências Sociais, onde os sociólogos detêm a potestade do saber. Todavia, mesmo demonstrando certa insatisfação com tal tendência, Tardif assume que o conhecimento ou o saber se assenta na ideia social, elucidando que sua existência depende também dos professores em sua prática profissional.

Dai o autor levanta algumas idéias que exemplificam seu pensar:
O saber é social porquê?:

  1. Porque é partilhado por um grupo de agentes (professores) 
  2. Porque repousa em um sistema que vem garantir legitimidade e orientar sua aplicação: universidade , administração escolar, sindicatos, Mec e etc. 
  3. Porque seus objetivos são sociais, o professor trabalha com sujeitos em função de um projeto: transformar os alunos , educá-los e instruí-los. 
  4. Porque evolui com o tempo e com as mudanças sociais, são construções que dependem da história de uma sociedade, de sua cultura e de seus poderes, das hierarquias da educação formal e informal.
  5. Por ser adquirido no contexto de uma socialização profissional. Adaptações que o professor passa aprendendo a ensinar fazendo seu trabalho, uma regra se se interioriza fazendo parte da sua consciência prática. 

O saber pode ser compreendido e analisado de diversas formas:

  • Saber e trabalho  - os saberes dos professores não são estritamente cognitivos, e sim mediado pelo trabalho que lhe fornecem princípios  para enfrentar e solucionar situações cotidianas.
  • Saber e diversidade - um saber-fazer bastante diverso, o saber é plural e heterogêneo, provenientes de fontes variadas e da natureza diferente. 
  • Saber e temporalidade - pois o saber é adquirido no contexto de uma história de vida e de uma carreira profissional. Para Tardif, ensinar significa aprender a ensinar, a dominar progressivamente os saberes docentes ao longo do tempo. Existe uma importância das experiências familiares e escolares anteriores à formação inicial do docente. Essas experiências são muito significativas, pois o professor foi aluno por muitos anos e nesse período adquiriu crenças, representações e certezas sobre o que é ser professor: o autor ainda descreve outras relações não menos importantes.
Um destaque para " os professores enquanto sujeitos do conhecimento"
Os professores possuem saberes específicos que são mobilizados, utilizados e produzidos por eles no âmbito  de suas tarefas cotidianas. São os professores que ocupam na escola, a posição fundamental, pois são os principais atores e mediadores da cultura e dos saberes escolares. Existe história, emoção, afetividade, crença e cultura na transmissão do saber. Compreendemos, então, que existe o inconsciente nessa transmissão. Essa questão propõe que se pare de considerar o professor como um técnico que aplica conhecimentos produzidos por outros, ou como um agente social que aplica o conhecimento determinado por forças ou mecanismos sociológicos. São visões opostas, mas que possuem em comum a exclusão do professor. Um professor de profissão é um ator no sentido forte do termo. Um sujeito que assume sua prática a partir dos significados que ele mesmo lhe dá, que possui conhecimentos e um saber-fazer provenientes de sua própria atividade. O professor produz novos  saberes sobre saberes anteriormente adquiridos.

A transmissão do saber e a aprendizagem vão além do processo comunicativo. Para tal, deverá ocorrer  a transferência de trabalho - o indivíduo recebe um conhecimento e passa a operar com aquilo que recebeu, faz-se necessário estabelecer um novo saber sobre o que foi transmitido. 

Reconhecendo o professor como sujeito do conhecimento ele tem o direito de dizer algo a respeito de sua formação, o professor deve atuar em seu próprio currículo. Uma verdade que não é real hoje. 

Concluindo, entendemos que Tardif sugere a necessidade de encontrarmos uma nova articulação e um novo equilíbrio entre o que se produz e o que se faz, pois, muitas vezes, os conhecimentos são produzidos em redomas sem conexões com as práticas profissionais. Levar em consideração o saber docente cotidiano permite renovar concepções a respeito da formação do professor, bem como de sua identidade e contribuição profissional.

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